Um Poeta/Um Poema

Esta atividade tem como principais objetivos promover o conhecimento e valorização dos autores portugueses e desenvolver o gosto pelo texto poético.
Metodologia:
1.       Divulgação, quinzenal, de um poema, nos espaços escolares e na página da BE.
2.       Leitura do poema e breve abordagem do autor, em todas as turmas, nas aulas de Português.
3.       Desafio “Descobrir o autor”: no Dia Mundial da Poesia, os poemas são transformados em código (QR cod) e distribuídos pelos espaços exteriores mais frequentados pelos alunos. A cada código é atribuído um número, os alunos fazem a leitura dos códigos, com a respetiva aplicação nos seus dispositivos móveis. São atribuídos prémios aos alunos com melhores resultados (três prémios)
4.       Exposição de todos os  poemas selecionados, no final do ano letivo.

Erros meus, má Fortuna, Amor ardente 
Em minha perdição se conjuraram; 
Os erros e a Fortuna sobejaram, 
Que para mim bastava Amor somente. 

Tudo passei; mas tenho tão presente 
A grande dor das cousas que passaram, 
Que já as frequências suas me ensinaram 
A desejos deixar de ser contente. 

Errei todo o discurso de meus anos; 
Dei causa a que a Fortuna castigasse 
As minhas mal fundadas esperanças. 

De Amor não vi senão breves enganos. 
Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse 
Este meu duro Génio de vinganças! 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

                                     Viajar pela leitura

                    Viajar pela leitura

                    sem rumo, sem intenção.

                    Só para viver a aventura

                    que é ter um livro nas mãos.

 

                    É uma pena que só saiba disso

                    quem gosta de ler.

                    Experimente!

 

                    Assim sem compromisso,

                    você vai me entender.

                    Mergulhe de cabeça

                    na imaginação!

                                

                           Clarice Pacheco

O Tempo

     

 A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

 Quando se vê, já são seis horas!

 Quando de vê, já é sexta-feira!

 Quando se vê, já é natal...

 Quando se vê, já terminou o ano...

 Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

 Quando se vê passaram 50 anos!

 Agora é tarde demais para ser reprovado...

 Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

 Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...

 

                              Mário Quintana

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade , "Receita de Ano Novo". Editora Record. 2008.